Saiba o que é a doença carotídea e no que consiste o seu tratamento
Saiba o que é a doença carotídea e no que consiste o seu tratamento
Doença carotídea ou da carótida
O que é a doença carotídea?
As artérias carótidas estão localizadas em ambos os lados do pescoço e estendem-se desde a artéria aorta, localizada no tórax, até à entrada na base do crânio. Estas artérias são extremamente importantes, uma vez que fornecem sangue e, consequentemente, oxigénio e nutrientes ao cérebro.
A doença carotídea é uma situação potencialmente grave, uma vez que se podem formar trombos na placa de aterosclerose.
Estes trombos ou fragmentos da própria placa podem soltar-se e percorrer a corrente sanguínea até ao cérebro, acabando por bloquear o fluxo de sangue e provocar um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquémico. Um AVC pode causar lesões cerebrais permanentes ou mesmo a morte, se uma grande área for afetada. Outras vezes, pode ocorrer um Acidente Isquémico Transitório (AIT), com recuperação completa em menos de 24 horas. O AIT é frequentemente um sinal de alerta de que um AVC pode ocorrer num futuro próximo, sendo necessário procurar uma rápida avaliação para permitir o tratamento atempado.
Tratamento da Doença Carotídea
Endarterectomia Carotídea
A endarterectomia carotídea é uma cirurgia que pode estar indicada em alguns casos de doença da artéria carótida para remover a lesão obstrutiva da artéria.
Este procedimento elimina da parede da artéria a placa de aterosclerose ou ateroma, normalizando o fluxo de sangue.
Pode ser efetuada uma anestesia geral ou, pelo contrário, anestesiada apenas a área do pescoço, mantendo-se o doente acordado (de forma a poder comunicar com o cirurgião durante a operação). O facto de o doente se manter acordado, permite ir avaliando até que ponto o cérebro está a tolerar a cirurgia.
Após a anestesia, o cirurgião vascular faz uma incisão num dos lados do pescoço, expondo a artéria em questão. De seguida, a artéria é temporariamente clampada (com uma espécie de pinça), impedindo o fluxo de sangue através dela no segmento afetado. Este gesto permite a sua abertura para remoção da placa. Durante o procedimento, o cérebro recebe sangue vindo da artéria carótida do lado oposto do pescoço. Alternativamente, o cirurgião poderá inserir um shunt (tubo temporário para derivar o sangue à volta da artéria que está a ser reparada).
Após a clampagem da artéria, o cirurgião faz uma incisão diretamente na zona obstruída, retira a placa, removendo o revestimento interior da porção da artéria que se encontra lesada. De seguida, a artéria é encerrada, na maior parte dos casos com recurso a um patch (como se fosse um remendo), removem-se os clamps e, por fim, encerra-se a incisão do pescoço.
O material utilizado para o remendo pode ser uma veia do próprio doente (habitualmente da perna) ou uma variedade de outros materiais sintéticos, dependendo da circunstância em particular. Este procedimento demora cerca de 2h, mas pode prolongar-se um pouco, dependendo do tempo de preparação e anestesia.
Exames necessários
Para além das recomendações pré-operatórias fornecidas pelo médico, como por exemplo o jejum, será necessário quantificar e caracterizar a placa existente nas artérias. O exame mais frequentemente usado para este propósito é o Eco-Doppler. Este exame é indolor e não invasivo. Na maior parte dos casos é o único exame necessário para o diagnóstico e planeamento cirúrgico.
Outros exames que poderão ser pedidos incluem:
- Angio-TC;
- Angio-RM;
- Angiografia.
destaque
Cuidados a ter depois de uma Endarterectomia Carotídea
Qualquer procedimento cirúrgico está sujeito a complicações.
O AVC é uma das complicações possíveis e mais temidas após, e mesmo durante, uma endarterectomia carotídea. Este risco é baixo, estimando-se em cerca de 1-3%.
Outra situação que pode ocorrer (embora raramente) é a reobstrução da artéria carótida, chamada de reestenose. Costuma ocorrer mais tardiamente, especialmente se o doente mantiver hábitos tabágicos. A probabilidade de sofrer uma reestenose suficientemente grave para necessitar de nova endarterectomia é habitualmente de 2-3%.
A lesão nervosa temporária, apesar de rara, é outra complicação possível e pode levar a rouquidão, dificuldade em engolir ou dormência da língua ou face. Esta situação resolve-se habitualmente em cerca de 1 mês, não necessitando de tratamento.
Apesar das complicações referidas, a probabilidade de qualquer uma destas ocorrer é muito menor do que o risco de AVC, se uma lesão arterial significativa não for tratada.
Como prevenir uma Doença Carotídea?
Embora a endarterectomia carotídea possa reduzir o risco de AVC (uma vez que remove a placa) e embora este procedimento seja duradouro, pode não impedir que a placa se volte a formar nos indivíduos suscetíveis. Para minimizar a probabilidade de nova obstrução arterial, o doente deve considerar as seguintes alterações no estilo de vida:
- Ingerir alimentos com baixo teor de gorduras saturadas, colesterol e calorias;
- Praticar exercício físico regular, especialmente exercícios aeróbicos (caminhadas, por ex);
- Manter o seu peso corporal ideal;
- Deixar de fumar;
Cumprir a medicação prescrita pelo médico assistente, nomeadamente medicamentos que diminuem o colesterol e anti-agregantes plaquetários.
Nota dos autores
Estes textos visam uma divulgação generalista. Procurou usar-se linguagem adequada à informação do público em geral. Pretende-se, ainda assim, que as noções apresentadas sejam as mais corretas à luz do conhecimento científico atual, embora de modo claro, mesmo para o leitor sem formação nesta área.
Biografia dos nossos Médicos de Cirurgia Vascular
Dra. Joana de Carvalho
Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular
Licenciada em Medicina e Cirurgia iniciou a formação específica em Angiologia e Cirurgia Vascular em 2005, no Hospital de S. João. Obteve o grau de especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular, submetendo-se, posteriormente, ao exame de certificação europeu, obtendo o título de Fellow of the European Board of Vascular Surgery. Realizou o curso Master em Fleboestética e fez certificação na técnica CLaCS (Cryo-Laser & Cryo-sclerotherapy), ambas no Brasil. Mantém presença assídua em revistas com artigos temáticos na área da cirurgia vascular, bem como em programas de televisão onde aborda o problema do crescimento das varizes e explora as soluções para o tratamento de derrames e varizes.
Professor Dr. Sérgio Sampaio
Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular
Licenciado e Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Fellow of the European Board of Vascular Surgery e membro de várias sociedades científicas, tais como Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular, Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardio-torácica e Vascular, European Society for Vascular Surgery e Mayo Clinic Alumni Association. Dá aulas como Professor Auxiliar Convidado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Assume desde 2009 a coordenação da equipa de Cirurgia Vascular do Hospital Privado da Boa Nova e inicia funções como delegado nacional em representação da Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular.