As varizes dos membros inferiores são consensualmente reconhecidas como podendo ter consequências em vários planos.
Os problemas de saúde a elas associados podem manifestar-se como complicações agudas mas também sob a forma de um agravamento progressivo e insidioso. Assim, alguém com varizes que as deixe entregues à sua história natural, corre um risco maior de sofrer episódios súbitos como varicoflebites (trombose de uma variz, geralmente associada a francos sinais inflamatórios), mas pode igualmente ir registando alterações apenas perceptíveis após algum tempo de evolução. Sintomas como cansaço e sensação de peso e sinais como edema, de predomínio vespertino e estival, podem ir-se instalando e aumentando de intensidade, acabando por comprometer a qualidade de vida de modo considerável.
Este problema pode também provocar preocupações de imagem, especialmente no sexo feminino. A simples presença de varizes pode tornar-se facilmente algo de muito inestético, pelo volume e/ou pela cor dos trajectos venosos anómalos. A verdade porém, é que a evolução da doença acaba por provocar alterações estruturais, que podem ser permanentes, da pele de determinadas zonas das pernas. Essas áreas podem tornar-se pigmentadas, atróficas e fragilizadas chegando mesmo a ulcerar em situações mais graves.
Ao longo dos tempos, muito tem mudado no modo como a doença venosa é encarada. Determinadas situações clínicas, nomeadamente envolvendo o sistema venoso profundo, tradicionalmente apenas geridas com recurso a fármacos, são hoje quadros em que uma atitude mais interventiva é por vezes contemplada. Também o tipo de técnicas disponíveis para intervir nas varizes é hoje assaz variado. Cirurgia dita “clássica” de laqueação e exérese venosa, ablação endovenosa térmica (por LASER ou radiofrequência), esclerose química ou mecânico-química e exclusão venosa pela injecção de substâncias adesivas, são técnicas que coexistem nos nossos dias. Cada uma com características próprias, que podem torná-la mais adequada em função das variáveis anatómicas e pato-fisiológicas das varizes em causa bem como do doente que para elas procura solução.
As várias dimensões que importa avaliar e as diversas soluções que podem ter que ser discutidas fazem desta patologia um desafio a encarar por uma estrutura que incorpore toda a tecnologia e know-how implicados nas fases de diagnóstico e terapêutica.
Professor Doutor Sérgio Sampaio
Coordenador do Centro Venoso do Hospital Privado da Boa Nova